BELO HORIZONTE –
No último dia 28, o jornalista Oswaldo Braga, que tem uma coluna gay no jornal mineiro O Tempo, escreveu um texto intitulado É Gol sobre o homoerotismo no futebol. O colunista provocou a ira dos machões torcedores do Cruzeiro, e recebeu várias ameaças de morte por e-mail e nos comentários postados no artigo. Leia o texto abaixo:
É gol!
Que felicidade! Exultante, corre o atacante vitorioso em direção à torcida, enquanto seus companheiros o perseguem. Num gesto impetuoso, ele tira sua camisa e exibe um abdominal de gominhos, o tórax seco, sem uma grama sequer de gordura. Um atleta que tem a noção exata do seu momento de glória, quando milhões de olhos encantados se voltam para ele. Um homem que exala sedução por todos os poros. A torcida vem abaixo, se encanta incontinente com a figura do ídolo descamisado quando seus colegas o alcançam para o glorioso abraço que consolida o espírito de time e o sucesso do trabalho conjunto. Um caloroso momento íntimo-coletivo em que corpos suados, mãos, caras, bocas e sexos se esfregam sem censura ou qualquer tipo de limite machista. Um homoerotismo que contagia todo o estádio, um ambiente masculino por essência, diante dos olhos de milhares de homofóbicos.
Que felicidade! Exultante, corre o atacante vitorioso em direção à torcida, enquanto seus companheiros o perseguem. Num gesto impetuoso, ele tira sua camisa e exibe um abdominal de gominhos, o tórax seco, sem uma grama sequer de gordura. Um atleta que tem a noção exata do seu momento de glória, quando milhões de olhos encantados se voltam para ele. Um homem que exala sedução por todos os poros. A torcida vem abaixo, se encanta incontinente com a figura do ídolo descamisado quando seus colegas o alcançam para o glorioso abraço que consolida o espírito de time e o sucesso do trabalho conjunto. Um caloroso momento íntimo-coletivo em que corpos suados, mãos, caras, bocas e sexos se esfregam sem censura ou qualquer tipo de limite machista. Um homoerotismo que contagia todo o estádio, um ambiente masculino por essência, diante dos olhos de milhares de homofóbicos.
É gol! Que felicidade!
O assunto futebol tem estado presente neste final de Campeonato Brasileiro. Eis que alguém me pergunta para que time eu torço e respondo orgulhoso: "Cruzeiro!". "Ah! Claro! Só podia ser!", responde. " Por quê?", replico já adivinhando a resposta: porque sou gay e o Cruzeiro é o time dos gays. Eis a tola explicação para sua óbvia conclusão chauvinista.
O assunto futebol tem estado presente neste final de Campeonato Brasileiro. Eis que alguém me pergunta para que time eu torço e respondo orgulhoso: "Cruzeiro!". "Ah! Claro! Só podia ser!", responde. " Por quê?", replico já adivinhando a resposta: porque sou gay e o Cruzeiro é o time dos gays. Eis a tola explicação para sua óbvia conclusão chauvinista.
Encontrei duas hipóteses que explicariam essa ligação: a primeira diz respeito à origem do Cruzeiro. O clube foi fundado pela colônia italiana de Belo Horizonte, pessoas cultas, que se vestiam bem e se comportavam com educação nos estádios. Logo, todo cruzeirense seria gay, pois segundo essa lógica troglodita, ser culto e educado não é coisa de macho.
A outra história tem a ver com o goleiro Raul Plassmann, famoso no Cruzeiro, depois no Flamengo e até na seleção brasileira. Numa época em que os goleiros se vestiam invariavelmente de preto ou cinza e "homem que era homem" não vestia roupa colorida, faltou a camisa do Raul e improvisaram uma substituta para que pudesse jogar.
O jovem bonito, louro e cabeludo Raul Plasmann desafiou os costumes e defendeu o Cruzeiro com uma camisa amarela que se tornaria sua marca registrada. Naquele momento, Raul ganhou a alcunha de Wanderléia, em referência à cantora loura da Jovem Guarda. E a torcida do Cruzeiro, o título pejorativo de "time de bichas".
A homofobia precisa ser questionada. Hoje, a camisa amarela não representa mais um sinal de feminilidade, os jogadores se exibem nos estádios e em revistas gays, mas os cruzeirenses continuam ligados aos homossexuais. Contudo, isso nos trouxe também avanços, uma vez que as torcidas organizadas Crugay e Rosa Azul são aceitas e respeitadas nos jogos do Cruzeiro.
Camisinha sempre!
As ameaças –
Nos comentários postados no artigo, muitos torcedores do Cruzeiro apenas agridem verbalmente o jornalista, mas sem ameaças. Outros, no entanto, são bastante incisivos neste aspecto. “VOCE VAI SER ASSASSINADO EM BREVE. TOMARA PIPOCOS NA CARA... SO NA CARA (sic.), escrreveu um internauta. “Tú é louco meu irmão? Se você é bixa, fique só pra você e apague essa merda que você escreveu!” (sic). Outros juram perseguir o jornalista. “Teu castigo lhe espera... Tua cara de viadinho já está marcada” (sic). ; “Vc mecheu com uma nação, tome cuidado ao sair na rua e pegar um torcedor pela frente, vc vai virar um pate de boiola” (sic.) Outros ofendem, inclusive, a mãe do colunista. “Jamais diga o nome do Cruzeiro em esse seu blogay!!!! Cara, primeiramente a tua mãe deve ser uma biscate por que não te fez homem, mais agora vc vir falar do Cruzeiro?? vai se fuder!!!” e as ameaças se seguem. “Vc vai morrer Gaylo FDP!!!” (sic.)
Denúncia –
Na última quarta-feira, 02, Oswaldo Braga encaminhou um e-mail ao chefe da Polícia Civil de Minas Gerais Marco Antônio Monteiro de Castro, ao secretário de Estado de Defesa Social Maurício de Oliveira Campos, ao comandante Geral da Polícia Militar de Minas Gerais Renato Souza e ao chefe de Gabinete da Polícia Civil de Minas Gerais Jésus Barreto, solicitando providências necessárias quanto às ameaças que recebeu.“No último sábado, 28 de novembro, relatei alguns fatos que envolvem o futebol e a repercussão dos comentários que fiz tem gerado uma enxurrada de ofensas e ameaças que, como cidadão a quem se garante o direito à livre expressão e ao trabalho digno, gostaria de dar ciência aos nossos órgãos de segurança, pedindo que tomem as providências necessárias”, solicita o jornalistaNa solicitação, Oswaldo Braga relata que escreve a coluna sobre homossexualidade aos sábados desde 2007 no jornal O Tempo. Segundo o colunista, a coluna trata de vários aspectos que circundam a vida dos LGBT, além de ser o retrato das emoções que povoam a vida de um homem gay. O chefe de Gabinete da Polícia Civil de Minas Gerais Jesus Barreto respondeu à solicitação do jornalista. “Pela parte da Polícia Civil, farei imediato encaminhamento deste e-mail ao Superintendente Geral, em peça física anexa a um ofício, para as eventuais providências de polícia judiciária, se cabíveis”, disse.
Fonte: Mundo Mais
Nenhum comentário:
Postar um comentário